9 de março de 2010
Dramaturgo e poeta espanhol, Pedro Calderón de La Barca é um dos grandes nomes do Teatro Barroco. Famigerado, principalmente, por sua obra "La Vida és Sueño", na qual lança um olhar sobre os costumes, a religião, o destino do Homem e o mais filosófico dos temas: a própria vida. Entre do drama e a comédia, a obra é impecável e, também por isso, imortal.
Em trecho da obra o monólogo de Segismundo:
“SEGISMUNDO: Apurar, ó céus, pretendo, já que me tratais assim,
que crime cometi contra a vós outros,
nascendo; que, se nasci, já entendo
qual crime hei cometido:
bastante causa há servido vossa justiça e rigor,
pois que o crime maior do homem é ter nascido.
E só quisera saber, para apurar males meus
deixando de parte, ó céus, o delito de nascer,
em que vos pude ofender por me castigardes mais?
Não nasceram os demais? Pois se eles também nasceram,
que privilégios tiveram que eu não gozei jamais?
Nasce a ave, e com as graças que lhe dão beleza suma,
apenas é flor de pluma, ou ramalhete com asas,
quando as etéreas plagas corta com velocidade,
negando-se à piedade do ninho que deixa em calma:
só eu, que tenho mais alma, tenho menos liberdade?
Nasce a fera e com a pele
que desenham manchas bela
apenas é signo de estrelas (graças ao douto pincel),
quando atrevida e cruel,
a humana necessidade lhe ensina a ter crueldade,
monstro de seu labirinto:
só eu, com melhor instinto, tenho menos liberdade?
Nasce o peixe, e não respira,
aborto de ovas e lamas, e apenas baixel de escamas
por sobre as ondas se mira,
quando a toda a parte gira, num medir da imensidade
o’a tanta capacidade que lhe dá o centro frio:
só eu, com mais alvedrio, tenho menos liberdade?
Nasce o arroio,
uma cobra que entre as flores se desata,
a apenas, serpe de prata,
por entre as flores se desdobra, já, cantor, celebra a obra da natura em piedade
que lhe dá a majestade do campo aberto à descida:
só eu que tenho menos vida, tenho menos liberdade?
Em chegando a esta paixão um vulcão, um Etna feito,
quisera arrancar do peito Pedaços do coração que lei,
justiça, ou razão, nega aos homens- ó céu grave!
- privilégio tão suave, exceção tão principal,
que Deus a deu a um cristal, ao peixe, à fera, e a uma ave?"


Tão nobre obra e pensamento mereceram destaque posterior pelo filósofo alemão Arthur Schopenhauer. Ainda em outro trecho desta obra ímane, destaquemos:
"O que é a vida? Um frenesi,
O que é a vida? Uma ilusão,
uma sombra, uma ficção,
e o maior bem é pequeno;
que toda a vida é sonho,
e os sonhos, sonhos são."
E como definir qual é a linha que divide sonho e vida, vida e sonho. Filosofaremos sobre isso n'outra ocasião!
Eduardo Cantos Davö

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Músico, Escritor, Anarquista e estudante de Direito (embora seja paradoxal). Um idealista, em busca do compreendimento das cousas mais banais que nos rodeiam.