5 de junho de 2014
Sim, de fato, novamente me afastei do blog por um longo período. Estes períodos de hiato são fundamentais para quem se atreve a observar a sociedade, o mundo ao redor.
Contudo, não posso, hoje, abster-me de opinar. Nesta data se comemora o Dia Mundial do Meio Ambiente ou, pelo menos, deveríamos ter algo a comemorar. 
Nunca temos! A sociedade de consumo hodierna, moldada ao correr de quase quatro séculos, acentuada nos dois últimos, dirige-se, conscientemente, a um abismo que, uma vez atingido, será intransponível.
Quem se atreve a defender o meio ambiente nesta sociedade alienada e desenfreada por consumo a qualquer custo, é sumariamente rotulado de "eco-chato", "folhinha", "comedor de alface", entre tantas outras irracionalidades de quem se recusa a ver o precipício em qual cairá em breve.
(Foto: Paulo Brandão. Flickr)

A imobilidade urbana já tomou conta de nossos grandes centros urbanos e, pelo prognóstico, tende a piorar, vez que, para manter a roda da economia girando, há cada vez mais estímulos irracionais e imediatistas, como a redução de tributos para a aquisição de novos bens automotores, a viabilizar um número cada vez maior de veículos em nossas vias, emitindo cada vez mais dióxido de carbono em nossa atmosfera em um circulo danoso e infindo. Sim, sabemos que é irracional, mas estas políticas são muito mais úteis à economia do que sua solução, ou seja, investimentos efetivos em transporte coletivo, estimulo e criação de ciclovias, investimento em segurança pública para garantir ambos. Mas o raciocínio é simples e objetivo, como gostam os economistas, pois ao beneficiar a inserção de novos destes bens automotores nas vias, ocorre o recolhimento de receita, na forma dos tributos, ou seja, isto gera entradas para os cofres públicos e, posteriormente, continuará a ser meio de renda, pelo adimplemento dos impostos do bem, daqueles outros inclusos no preço do combustível - fonte poluidora, bem como em cada manutenção. Trocando em miúdos, a injeção de novos bens automóveis de forma irracional e desenfreada é fonte de renda inesgotável para o Estado.
(Foto: Señor Codo. Flickr)

Minha crítica, a bem da verdade, não se refere meramente à redução dos tributos para estimular a aquisição destes bens, pois quando falamos em imobilidade urbana, tenho também de criticar as políticas de rodízio, que, além de inócuas, são também motores da sociedade do consumo desenfreado. Para comprovar tal, basta analisarmos que, em geral, os indivíduos possuem dois ou mais veículos, com placas diferentes, burlando, desta forma, o rodizio, e retornando à premissa anterior de receita sobre receita do Estado.
E porque não a solução ambientalmente mais eficiente? Perguntar-me-ia, quiçá, o amigo leitor. A resposta é simples. Os investimentos em transporte público, em ciclovias, educação ambiental e segurança pública para assegurar o ir e vir possuem custo - e alto - para os cofres públicos. Custo este com o qual o Estado não deseja arcar, dada a pouca visibilidade e a contenção das fontes de receita sua. Assim, o Estado é o primeiro poluidor, a insistir na degradação do ambiente, pois, bem sabe, poluir lhe é demasiadamente lucrativo para subitamente deixar de fazê-lo.
Como exemplo de tal, temos nossa legislação ambiental que não visa, como muitos podem equivocadamente pensar, coibir o desmatamento e a degradação ambiental, mas sim, tem por objetivo impor uma sanção monetária. Ocorre que as sanções em pecúnia são úteis aos grandes grupos industriais poluidores e ao Estado, seja o Brasil, aqui exemplo nosso, ou a China, Estados Unidos, etc. Esse caso se deve ao fato que uma vez efetivado o dano ambiental, um desmatamento de grandes proporções, o lucro obtido pelo grupo industrial é infinitamente maior, pois a partir daquela área é capaz de gerar receita capaz de rebater o caráter de sanção da multa.
Temos de lembrar que nossa legislação, ambiental ou não, é feita por legisladores de botequim, em sua maioria, defendendo os interesses industriais próprios, em muitos casos. Muitas vezes não, o que ocorre em muitos casos é a mais completa ignorância sobre o tema. Por tal razão, possuímos uma legislação tão tíbia e ineficaz.
E aí, temos de nos lembrar, que estes senhores ocupam tais cadeiras por nossos votos, que muitas vezes são vendidos, no interior deste país, por água potável, que cada vez será mais escassa, por bens de consumo, que ficarão cada vez mais caros, pois seus insumos naturais ficarão mais caros, pois a natureza não dará conta dos índices populacionais. Daí, não basta termos consciência de que votamos em um indivíduo com conhecimento legislativo, ambiental, social, etc. Depois de tudo, temos de fiscalizá-los periodicamente, porque eles sempre mudam. Mais do que isso, precisamos de órgãos que sejam fiscalizados de perto pela sociedade, pois adoram aquele "aique" indígena.
Por fim, chegamos a conclusão de que uma mudança efetiva do péssimo, insustentável, panorama ambiental e social deste país, e de todos os outros, tem de começar por baixo... O buraco é sempre mais em baixo e começa sempre pela educação de qualidade, inexistente na base deste país.
É preciso repensar hoje, agora, as práticas, começar a mudança por nós mesmos antes que possamos cobrar ações dos outros. Novas soluções têm de ser, mais do que debatidas, mas testadas, visto que debates filosóficos não mudam as realidades práticas, e temos de conciliar Meio Ambiente com desenvolvimento social, e não econômico como insistem alguns. 
Para muitos, a extinção de uma espécie é o de menos, se a economia vai bem. Pensam assim, pois julgam estar protegidos das mudanças climáticas. Ledo engano! O desequilíbrio ambiental já se mostra em demasia, na diminuição veloz da água potável, na invasão de animais silvestres às cidades, vez que lhes falta seu alimento, na inversão térmica do planeta, que gerará verões e invernos letais, no aumento do nível das águas, pelo derretimento das calotas polares, que ameaça causar o desaparecimento de regiões do planeta, habitadas, inclusive. 
(Foto: Ana Cotta. Flickr)

Precisamos, mais que nunca, trazer a questão ao lume, para novas práticas, não mera falácia, afastando a mentalidade liberalista do século XVIII, a buscar novos meios, que priorizem as pessoas e o meio ambiente.
Dane-se a economia, salvemos os povos, o ar que respiramos, a água que bebemos, a fauna e flora, o equilíbrio das coisas que nos mantém vivos.

Eduardo Cantos Davö

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Músico, Escritor, Anarquista e estudante de Direito (embora seja paradoxal). Um idealista, em busca do compreendimento das cousas mais banais que nos rodeiam.