13 de maio de 2013
Da Crítica do Ensino Superior Privado
12:44
| Postado por
Eduardo Cantos Davö
|
E’ triste ver no que nos transformamos! Nos
últimos três anos estive em duas instituições de ensino superior e vejo
consternado o quão e’ raro encontrar mestres com paixão em compartilhar saber,
o quão tornou-se escasso lugares que realmente preparem o discente para algo
que seja.
Entendo que a nossa sociedade se enraíza em
preceitos liberalistas, encobertos por uma pseudobandeira esgarçada de
socialismo, que não se sustenta co’ vento que dissipa uma frágil chama e, por
tal razão, demanda-se a cada dia de profissionais mal qualificados, mão de obra
de baixo custo que propiciem aos grandes gestores das instituições privadas
margens de lucro significativas, ocultas em fajutas nomenclaturas de “sem fins lucrativos”, na grande maioria,
a auferir capital bastante que no se conhece.
Estamos à mercê de poderes místicos, seres
supremos inatingíveis, pois padecemos da tibieza e inércia, dos “aiques” de heróis acobardados, Macunaímas hodiernos, órgãos e
responsáveis que não se dignificam em saber o quão caminhamos p’ro abismo de
uma sociedade moldada em preceitos superficiais.
Nestes últimos períodos em que estive nos
bancos acadêmicos, assisti aparvalhado a certos “Mestres” do Direito que foram incapazes de distinguir granizo e
granito, cousas cujo significado nem em viagem psicodélica de ácido lisérgico
se assemelham. Tive a infelicidade de ouvir destes que o augusto Estado de
Minas Gerais, detentor dos maiores patrimônios históricos deste país, era um “país com leis diferentes”. Ainda, que
fundamento legal e fundamento jurídico são “sinonímias
perfeitas”, entre incontáveis outros absurdos. Aonde mesmo pretendemos
chegar?
Lembro-me agora, aos números que evidenciem ao
Mundo o tamanho da educação brasileira... Números... Meramente números que não
são verossímeis à realidade. Não são bacharéis os que saem hoje das
instituições, são meros senhores que, de forma simplista, pagam por um papel
ornamentado que lhes afiancem um conhecimento que, em grande parte, não
possuem. Não porque não quiseram ou não se dedicaram, mas porque as
instituições privadas são meros negócios, vendem seu produto final. Uma
embalagem mui bem cingida e com conteúdo etéreo e frívolo.
E não adianta gritar contra os espectros que
assolam nosso ensino superior, pois órgãos públicos responsáveis pela
fiscalização das instituições privadas, fazem pouco caso, a cada reclamação que
se dirige replicam com a mesma resposta automática que não há nada que possam
fazer, em termos reduzidos aos gerúndios de um inglês mal traduzido. No fim das
contas, os números são mais importantes.
Ainda tenho a capacidade de me indignar, por
exemplo, ao ver que estas instituições, dotadas de mestres do naipe dantes
exposto, exigem de seus discentes cousas que ainda não lhes ensinaram, como
exemplo de requerer, a título obrigatório, que redijam dous recursos penais
para uma pasta de atividades, quando os discentes mal começaram a parte geral
da disciplina de Direito Processual Penal.
A indolência de certos coordenadores de curso
me assombra, pois não são poucos os que limitam as pesquisas acadêmicas a um
único trabalho, n’um sistema anômalo de eixos temáticos, mui confortáveis, pois
delegam a atribuição de notas, n’um primeiro momento, a professor único e,
posteriormente, a dous professores, limitando os temas, as pesquisas, criando
óbices ao conhecimento, redu-lo em no máximo vinte laudas. Sujeitam seus
discentes às orientações de um Mestre, daqueles, que não respondem, não sugerem,
esmaecem em cortina de fumaça.
São formados, estes mestres que ora critico, em
grande maioria de indivíduos que, incapazes de exercer o ofício em que se
doutrinaram, são encaminhados pela necessidade ao magistério, sem paixão alguma
pelo que fazem, sem cuidado com seus discentes. Deveriam, em regra absoluta,
tratar como pupilos, construí-los por si em ser do qual se estende seus
conhecimentos, n’uma prolongação de seus saberes compartilhados. Os maus mestres
gerarão por seus espelhos os maus profissionais e maus mestres de amanhã em um
circulo vicioso infindo.
Não direi que tive apenas maus educadores, mas
infelizmente estes são maioria. E tudo tende a piorar se seguirmos no caminho
que vamos, de meros números, da falta de respeito pela profissão sagrada de
ensinar, exercida de forma parca, truncada, por mera necessidade, sem didática.
Aos bons Mestres, de verdade, com didática e
paixão pelo que fazem, agradeço por terem-me ensinado, sem o ignóbil pavor de
dividir ou pressa em meramente cumprir programas de conteúdo.
Aos órgãos responsáveis, apressem-se, pois da
forma de seguimos não há um futuro educacional neste país, haverão apenas
números vazios, insustentáveis.
Às entidades de classe, lutem até que caiam
fadigadas, moribundas, não permitam que quaisquer botequins se autonomeiem instituições
de ensino, unicamente financeiras, sem uma causa de lutar uma entidade de
classe não tem sua “raison d’etrê”.
Às pessoas, que não se calem, 193 milhões de
brasileiros podem mudar a direção, pela caneta ou pela espada, se saírem das
sombras da cobardia e preguiça, de crer em números de leveza insustentável.
Eduardo Cantos Davö
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Autor
- Eduardo Cantos Davö
- Músico, Escritor, Anarquista e estudante de Direito (embora seja paradoxal). Um idealista, em busca do compreendimento das cousas mais banais que nos rodeiam.
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