4 de fevereiro de 2010
I
Rosa navegante em mares,
cortando o oceano doudo
plano azul - e gaivota em vôo
eu, cá, em alma afouto...

Ontem, o pegureiro vagando
buscando em desvairío a primavera...
Hoje, em face de mundo horrendo
desbarateando frechas, o céu em nov'era.


E tú, oh! Rosa - Não vês o sangue?
acaso o poente doura o trigo?
cerceiam a liberdade - há tempos exaurida,
abraçam fraternamente o amigo!

Viajante estrela que do céu despenca
Diz-lhes da verdade, a luta verdadeira
revela-lhes em face tenebrosa
a luta de uma vida inteira.


II


São estes teus filhos famintos
Que vivem e morrem sem pão
e outros, tão pouco distintos
que roubam na solidão...
É um povo que sem rir
nem sabe pr'onde fugir,
escondem-se em cantos escuros
dispõe-se nas ruas, trilhos
carregam no colo os filhos
debatem-se contra os muros.


Igualitária fora a utopia
mas falhou, logo caiu
e assim após outro dia
o sonho por fim sumiu.
Quem dera fosse albatroz
voaria, tão longe, veloz
E 'inda veria outras plagas
e outra criança sem trato
o vazio de outro prato,
no mar - outras vagas -


Oh! Rosa, como fora ingrata
e todos a tinham como ouro
nest'ora te enxergam prata
fio de navalha, sangra o couro
Oh! rosa vermelha incandescente
férrea, forjada em utopia indecente
diz, pois, de tua encenação,
fecha-se a cortina qual noite
tú, que feres qual açoute
despedaçando a ilusão


III


Tú que és rosa, rósea, trigueira
deixaste teus filhos à sorte,
sem moeda na algibeira,
depois viera na morte
e no fim da ribanceira
por fim o último corte
tendo por certa uma foice
e de ti, um mero coice!

Eduardo Cantos Davö

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Músico, Escritor, Anarquista e estudante de Direito (embora seja paradoxal). Um idealista, em busca do compreendimento das cousas mais banais que nos rodeiam.