26 de junho de 2012
Não quero mal, que nos machuca antes de atingir aos outros, ferindo-lhos também... Nem bem de todo, para que tornemo-nos frouxos... Quero a humanidade, a inconsistência, a instabilidade, a oscilação entre os extremos num médio que faz-nos o que somos. Medíocres, na melhor representação do termo, haja vista que nada é perfeição, por mais que a inventemos tão próxima. E que bom que assim é, com erros, com falhas, que apenas evidenciam a isonomia natural entre os seres.

Não quero gente grande, que já esqueceu seus sonhos; nem quero infantes que, leves, tornam-se rasos. Quero a intermitência, quero adultos que se lembrem da cousa mítica de um simples subir n’uma árvore, correr descalços na terra, de contemplar um pôr do sol, de rir com os amigos por se lambuzar de terra, de chocolate, de sorvete, de manga rosa... de vida!
Não quero o barulho, as sirenes, as buzinas, os estardalhaços, as brigas após cada jogo no domingo, ou outro dia qualquer. Também não quero o silêncio, da solidão, da prisão de si mesmo... Quero o barulho dos risos de camaradas reunidos em torno de uma fogueira, contando seus causos, a cantar suas músicas... Quero o silêncio dos abraços, dos olhos de irmãos e companheiros que se entendem quando o brilho destes se encontra.
Não quero a guerra, que mata os filhos do amor por capital; mui menos quero a paz, a maré mansa, a nau tranquila que tem destino certo. Quero guerras de travesseiro, de bolinha de papel, de quem sorrir com mais acinte! Quero paz de saber que podemos nos respeitar como bichos, que bem somos; de cuidarmos sem ferirmo-nos.
Quero nos amigos meus, olhos de insanidade com razão singular e personalíssima. Quero nos dias a certeza de que toda certeza a gente inventa e desfaz com a ponta de uma caneta, que muda o papel, do branco ao breu... e muda a gente para que a gente... Não... claro que não mudamos o mundo, mas para que mudemos a gente e as gentes muitas, filhos naturais de uma sociedade que, se trágica ou feliz, é feita por nossas penas, por nossas tintas... tem nossas cores.
Quero os paradoxos, as contradições... O riso na dor, a certeza na dúvida, a saudade do futuro e a esperança no passado, o destino sem ponto final, e onde for ponto, eu quero a vírgula...
Quero é querer o que os que querem – e fazem – não querem, por aqueles que têm muitos quereres, para um pouco ter e menos querer...

Eduardo Cantos Davö

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Músico, Escritor, Anarquista e estudante de Direito (embora seja paradoxal). Um idealista, em busca do compreendimento das cousas mais banais que nos rodeiam.