25 de fevereiro de 2011
Tive o infortúnio de presenciar um simpósio sobre a política nacional de redução de resíduos sólidos. Sei que é utópico, mas ainda possuo a capacidade de me indignar em face de absurdos.

Vivemos na era aonde defender o meio ambiente é a moda, uma excelente plataforma a seguir para quem almeja algum cargo eletivo, tema perfeito para demonstrar intelectualidade, porém, tudo infinitamente raso.

Não... O tema não é encarado com a seriedade que demanda, e a ridiculez se perpetua no dantesco cenário de destruição.
Lembro-me quando em 2005 realizei uma pesquisa sobre o inventor francês Guy Nègre, e seu magnífico invento: o carro movido a ar-comprimido. Sim, seria uma excelente alternativa ambiental, mas tudo, absolutamente tudo que envolve questões ambientais esbarra n’uma enorme barreira: não é nem um pouco interessante para os sheiks do petróleo, pois inventos como esse mexem diretamente no bolso de gigantes da economia mundial.
Ouvi hoje idéias estapafúrdias e aparvalhadas de quem desconhece ou ignora o que de fato é relevante. A primeira delas é que empresas produtoras de cerveja ofertem seu produto em embalagens de plástico. Magnífica idéia, não fosse o fato da reação química do fermentado alcoólico com outras moléculas presentes no plástico que, podem sim, causar danos futuros a saúde do consumidor.
Outra proposta foi a da criação de um imposto para os resíduos, como é na Alemanha, o que seria absolutamente impossível pelo seguinte motivo: vamos nos recordar de Carlos Chagas, quando o governo pagava pelos ratos e a população criava os meigos roedores para venda. Com velho “jeitinho” brasileiro alguns escapariam do imposto e descartariam os resíduos de forma ainda mais prejudicial ao ambiente. Aliado a esse fator, tenhamos em mente que a Alemanha não é exemplo de preservação ambiental para ninguém. Eu sei, o país recicla 82% de seus resíduos, mas vamos nos recordar, embora a memória seja o calcanhar de Aquiles do brasileiro, que em agosto do ano passado chegaram ao Brasil 22 toneladas de lixo advindo da Alemanha (Notícia). Some a isso tudo que o país possui também seis empresas apenas do ramo de eletricidade que figuram no ranking internacional das empresas mais poluentes, que juntas emitem mais de 146 toneladas de dióxido de carbono, segundo dados de 2007.
Em terras tupiniquins, continuamos a deliberar o sexo dos anjos, permanecemos inertes diante das facetas dos caciques, dos velhos coronéis, as mesmas raposas felpudas que empunham direta ou indiretamente suas motosserras, derrubam áreas de preservação numa Amazônia, que não é como deveria ser - patrimônio da coletividade - mas sim, terra de ninguém. Ainda ocorrem invasões e grilagens de terras, mas contra cacique que vive em planalto, e não em tribo, há muito pouco o que se fazer.
O buraco, no final das contas, é muito mais embaixo, o que vivemos é uma era de ignorância incomensurável, e mais uma vez tenho de apelar para a história.
A grande desgraça ambiental que temos a desventura de viver hoje teve seu inicio em fins do século XVIII, na maledicente era das revoluções francesa e industrial.
Com a Revolução Industrial os grandes burgueses iniciaram a lavagem cerebral na classe operária, grande maioria na ocasião - como ainda o é -, manter o proletariado alienado a todo mundo ao seu redor era extremamente interessante. Esse fator, aliado a revolução tecnológica, possibilitavam uma grande expansão econômica, poder-se-ia gerar em menor tempo uma maior quantidade de produtos, aumentando a oferta na medida da procura e mantendo preços atrativos para os burgueses. Desde esses tempos longínquos, o que importava era meramente o lucro.
Eis a palavra chave para todas as pestes modernas: Lucro!
Pelo lucro criou-se um vale tudo, exploração de trabalho infantil, trabalho escravo e semi-escravo, como ainda hoje ocorre na China (socialista de meia pataca), destruição florestas e outros recursos naturais que se converteram em insumos e, por fim, uma minoria lucrou, com o também pseudo, patrimônio coletivo.
Nos últimos anos houveram muitas propostas, entre elas a criação de novas leis que venham a acolher de forma mais efetiva a questão ambiental. Mas o resumo da ópera é simples, não precisamos de uma nova lei inaplicável. Pra quê? Para gastarmos mais papel com a impressão de novas leis, publicação impressa no DOU, e depois, essa mesma lei, ser legada ao esquecimento e inaplicabilidade?
A única ferramenta que, de fato, pode modificar nossa torpe realidade, a única espada contra a alienação de séculos é a EDUCAÇÃO.
Precisamos de um real investimento na educação e na cultura, não podemos admitir que nossos filhos saiam da escola como analfabetos funcionais, ignóbeis e especuláveis pelos velhos caciques ardilosos.
Precisamos de escolas públicas fortes, não precisamos de quantidade de horas/aula, mas de qualidade, conscientização, formar uma geração que cultue o hábito da leitura, que aprenda a escrever mais que seu nome, que lute e questione ações incorretas. Se não investirmos, e muito, na base, na educação desde a 1ª Série até o final do Ensino Médio, isso não é possível. É necessário, também, pararmos de gastar dinheiro público com modelos pré-programados do exterior, nossa realidade é única, somos uma miscelânea cultural, e as verbas públicas devem, primordialmente, ser investidas bibliotecas bem equipadas para o aluno e o professor, computadores a disposição do aluno para ampliar seu horizonte, condições melhores salariais. Enfim... Uma mudança radical no sistema de ensino.
Rezemos para que os caciques se conscientizem que suas canetas afoutas para assinar leis será inútil sem que hajam as mais essenciais das cousas: Educação e Cultura. Não existe outro caminho e nem atalhos!

Eduardo Cantos Davö

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Músico, Escritor, Anarquista e estudante de Direito (embora seja paradoxal). Um idealista, em busca do compreendimento das cousas mais banais que nos rodeiam.