7 de outubro de 2010
O Mundo Que É
16:46
| Postado por
Eduardo Cantos Davö
|
Que horas eram antes do mundo ser mundo?...
Era esta a pergunta que rondava envolto em nébula minha mente, em sem atinar com resposta coerente, abri as janelas em noite sombria, quase vitoriana, e saltei no abismo de um mundo que está. Está, pois o ser nada é!
Vaguei pelo escuro, sob a cortina funesta e toldada de névoa, quase britânica, e fumaça de charuto. E em cada esquina havia um Tempo, tão real, personificado, com grande ira saltando-lhe em face e em cada mão um machado cortando o Espaço e fazendo rolar as cabeças dos menos desavisados.
Abriu-se, então, uma porta cinzenta e no lugar apertado, boteco de esquina, adentrei e me deparei com a Solidão num canto bebendo um Whisky puro. Na mesa de centro jogavam um carteado a Guerra, a Justiça e a Ilusão.
Enquanto a Ilusão dizia suas palavras utópicas, do mundo como deve ser, a Guerra escondia as cartas na manga e a Justiça, aparvalhada, abaixava a venda e via calada o roubo à Ilusão.
Em um rompante, levanta-se a Ilusão enfurecida, gritando para a Justiça do roubo na mesa do bar. A Solidão, em seu canto, chorava. A Guerra somente ameaçava e a Justiça lhe dava razão.
A Democracia, que aparentemente era dona do local, bradava com voz argentina e temerosa uma sentença assaz escandalosa: “Que vença a maioria!”. Foi quando então a Ilusão buscou o voto da Solidão, que estava quieta em seu canto, tentando ao menos um empate. A Guerra caminhou com passos firmes e ofereceu à Solidão mais um Whisky. No âmago se sua mente, a Solidão sabia que quando tudo terminasse estaria só novamente, assim sendo, melhor ter o Whisky. Votou pela Guerra. A Justiça apenas balbuciava: “Justo!”.
A Ilusão saiu afouta do bar, esbarrando na Esperança, que estava acompanhada da amiga Revolução. E ao se sentir acolhida por estas, narrou-lhes o ocorrido no bar...
E as três marcharam pelas ruas, dobraram esquinas, viram a verdade nua, plantaram sementes lisérgicas de ideologia.
E o Tempo, senhor daquilo que está, rodou no ar seu machado... Na esquina sombria girava a cabeça da Esperança, até desfalecer.
A Guerra encontrou a Ilusão, absorta em êxtase de pura ideologia, esta nem mesmo sentiu o golpe veloz da Guerra, fenecendo ao chão.
A espada afiada da Justiça, que de cega não tem nada, em corte pleno findou com a Revolução.
Que pesadelo dantesco!... Então abri as janelas em noite sombria e saltei de volta no abismo do mundo que está, mas não sei se acordei!
Eduardo Cantos Davö
Marcadores:Antroposofia Literária,Filosofia
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- Eduardo Cantos Davö
- Músico, Escritor, Anarquista e estudante de Direito (embora seja paradoxal). Um idealista, em busca do compreendimento das cousas mais banais que nos rodeiam.
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