12 de novembro de 2011
O Extraterreste
15:35
| Postado por
Eduardo Cantos Davö
|
Era uma véspera de Halloween, quase meia-noite, quando na casa da família a menina se pôs a gritar, a produzir um som estridente que a todos fez acordar:
— Papai, mamãe... Um ET – gritava a criança infernal em seu tom.
Os pais correram, afinal, pela frase desconexa e fantasiosa, deveria estar a arder em febre, em pleno delírio.
Mas de fato era, em bem puderam aferir, um extraterrestre, bem apessoado, de vestimenta impecável – um terno de linho do mais puro que há no universo, gravata vermelha e uma côr de pele insuportavelmente verde.
De inopino, pensaram se tratar de fantasia bem acabada de alguém já pronto para o dia das bruxas. Mas o ET, falador – e muito! - do bom português, permitiu que o tocassem, para aferir a sua condição verdadeira de ET.
Tentaram, de toda sorte e em vão, retirar a pele do extraterrestre até que constataram o fato: era um elegante – e verde! – extraterrestre de verdade.
O gato da pequena menina, que ia sorrateiro para o quarto, assustou-se com o enorme ser verde e saltou pela janela, até a copa do flamboyant.
De ofício, o nobre extraterrestre subiu pelos galhos e trouxe o bichano para a jovem menina, que sorria – e nesse ponto não se sabe se pelo gato ou pelo estado esfarrapado do ser espacial.
O extraterrestre perdeu a indumentária, mas ganhou a hospedagem, num certo tom de intercâmbio interplanetário.
E assim foi durante um bom tempo, ajudava na casa, carregava as compras e dizem que até acompanhou a família ao Maracanã para torcer, num clássico Fla-Flu.
Mas não há maquilagem que esconda por muito tempo um ser verde num terno de linho branco, que de longe parecia um pé de alface gigante dentro de um guardanapo branco mais gigante ainda!
Descoberto, foi logo preso, a polícia surgia de todo lado. A família nem mesmo ofereceu resistência, afinal, a recompensa pela captura do ser estranho fora argumento bastante convincente. Levaram-no!
Na delegacia veio logo o defensor, safo e... Advogado! Nas poucas palavras que trocou com o cliente ET – educado, sábio... e verde – disse:
— É por esse tipo de situação que acho que os ETs civilizados devem ficar bem longe da terra: porque nós não somos!...
Mas em terra de gente viver não é nada fácil, o caso sequer foi a julgamento. Tido como ameaça terrorista interestelar, levaram o ser sábio, elegante, educado, civilizado, gentil – e verde! – para um galpão. Daí já se presume: Mataram-no, dissecaram-no, expuseram-no, venderam ingressos – cobertura internacional – manchete no mundo todo! Haja lucro!
Na manhã seguinte, uma celebridade instantânea anunciou o casamento. Tomou as manchetes, as rádios, as emissoras de televisão.
Quanto ao ET, só tenho a dizer que o tempo, casmurro como é, passou!...
Eduardo Cantos Davö
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- Eduardo Cantos Davö
- Músico, Escritor, Anarquista e estudante de Direito (embora seja paradoxal). Um idealista, em busca do compreendimento das cousas mais banais que nos rodeiam.
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