31 de janeiro de 2010
É quando as paredes guardam um silêncio sufocante, e não adianta gritar, chorar, ouvir a mais estridente melodia, pois o silêncio vazio e esmagador permanece ali... E esse silêncio ecoa infinitamente, a esse vazio chamamos saudade.
Saudade é mesmo essa lacuna, esse não ter que nos aflige, seja saudade de uma pessoa querida, um amigo, um familiar, um tempo que ficou no passado ou uma simples flor que já não há, no mesmo vaso, no mesmo lugar.
Trata-se de cousa que aparece lentamente ou até mesmo do nada, um simples pôr-do-sol pode desencadear... E só se sente por cousa que já não se tem, ou não se pode recuperar tão fácil...
Isto surge não sabe-se d'onde, e por mais que rimos, brincamos, e fugimos doudos pra canto qualquer, isto dói, e não há remédio. Inventamos armas, criamos poesias, fugimos da vida, quebramos a barreira do tempo e do espaço, inventamos de tudo um pouco... e continua a doer...
Naturalmente não dói como levar um arranhão de animal de estimação, ou cair de uma goiabeira, escorregar nas pedras de uma cachoeira, tampouco como um tapa de sua avó ou avô, ou ainda, uma lição de moral de seu amigo, ou amiga... Saudade dói muito mais, pois trata-se da soma de todas essas dores que nos faltam.
Ainda que a palavra saudade só exista em português, esse eco oco repleto de nada, essa falta deveras dolorida, habita em qualquer coração ou mente, e que bom que assim se faz presente, esse imenso nada, afinal, somos um monte de nada, no meio de um imenso tudo, um mar de interrogações, a saudade é parte desse nada, das interrogações e das cousas que nos fazem humanos.
Descartes errara ao dizer "Cogito, ergo svm", trocando em miúdos "penso, logo existo", errara, pois a principal condição humana é "sinto, logo existo", pensar é conseqüência do sentir e a saudade é um desses sentimentos que habitam o mais açoutante nada... E o nada é tão feio que simplesmente o ignoramos sem perceber que ele é que nos dá o leque de tudo o que pode ser feito.
Bendita a saudade que nos faz chorar, pois as lágrimas são águas da fonte da verdade que molham nossos olhos, aquecem nossos corações e limpam nossas almas afoutas.


Eduardo Cantos Davö

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Músico, Escritor, Anarquista e estudante de Direito (embora seja paradoxal). Um idealista, em busca do compreendimento das cousas mais banais que nos rodeiam.