10 de agosto de 2010
É fato que espectro maior que o Estado não há e, para comprovarmos tal fato, basta mirá-lo por diversos prismas, que não os vendidos pelo próprio Estado, ou os diversos braços do mesmo, pois, este “ente” avassalador se faz presente em cada canto do vosso pensamento, por tal motivo são veredas assaz escarpadas as que pretendo neste tratar, pois, a questão feal nesta linha de pensamento é: onde o Estado não influi ou influiu?
O nome Estado surge apenas no século XVI, quando Machiavel lhe confere este título em seu clássico “O Príncipe”, entretanto, este sangue suga da humanidade existia em tempos ainda mais arcaicos.
Quando falamos no Estado, sua personificação imediata é pela figura do César romano, do faraó egípcio, do rei cujo latim valia qual lei imediata, ainda que nem sempre escrita, todos estes, sinônimos de tirania e imposição da vontade unitária.
Antes do Estado, há a sociedade, mas antes e acima de tudo vós deveis ter em vossas mentes que o ser humano não é um animal social por sua medíocre racionalidade, mas sim, por seu prazer natural e instintivo de infligir dor, seja à própria espécie, seja às demais. A maneira mais prazerosa de causar dor, para o homo sapiens, é aquela em que se pode observar o male causado, na sociedade essa dor pungente salta em face, ainda que se busque não vê-la. É, pois, o câncer maior desta espécie.
Assim, como uma deidade perniciosa, surge o inabalável Estado. Esse ser que vos especula em cada minucioso canto de vossas mentes. Tudo o que vós sois ou penseis é fruto da ânsia maléfica deste ser, mas qual de vós vos levanteis contra a fera que especula vossas mentes e vos torna meros vassalos num jogo desigual onde vos sois sempre um ser contra a força onisciente e onipotente chamada Estado?
Acima da personificação do Estado, vós podeis imaginá-lo apenas Estado, sem qualquer pessoa a interferir no mesmo, e neste pensamento teremos um inimaginável e ininteligível Nada. Quem melhor descreve esse Nada, que oxida e corrói o ser que o rege, é o escritor Michael Ende, que diz o seguinte no trecho da obra “Die Unendliche Geschichte”: “[...] Parecia cada vez mais irreal. E para além dessas árvores não havia nada, absolutamente nada. Não era um lugar ermo, nem uma zona escura ou clara; era algo insuportável à vista e que dava às pessoas a sensação de terem ficado cegas. Pois não há olhos que suportem olhar o nada total [...]”
Assim, poderia dizer do Estado, sendo esse Nada, como a escuridão total, mas não se trata disso, pois o Nada não tem uma cor, não tem luz e nem sombra, ele é apenas o nada. Se vós imaginardes este transparente estareis igualmente equivocados, pois, em tudo que é transparente pode-se ver o que há atrás da superfície translúcida e o nada não pode ser visto pelo olho humano, e mesmo se pudesse, atrás dele haveria mais do mesmo nada. Também podeis pensar que o nada é como o ar, também invisível aos olhos humanos, entretanto, o ar possui milhares e centenas de milhares de átomos e o nada não possui átomos, o nada não possui nada.
Dessa forma vós podeis entender as entre linhas de Ende, começa-se a compreender que esse nada que torna as cousas ocas, frágeis como o vidro, está presente nesse espectro chamado Estado e em cada canto, de norte a sul, como reflexo ou reflexo do reflexo, cercando e corrompendo, tornando a todos, também, vazios.
Quando vós nascestes, vossas famílias já estavam infectadas pelas vontades inescrupulosas do Estado, a vós fora negado o alvedrio assegurado pela biologia ou por vossa própria filosofia, que ainda lisérgica crê com veemência que o possui. Vós fordes educados somente para seguir vossas vidas, sem contradizer o Estado, inertes à própria razão ou anseios.
As escolas criam desde sempre máquinas programadas para dizer: “sim senhor”, aceitar todo e qualquer desmando sem ação alguma, criam gerações de analfabetos funcionais que, porventura, jamais entenderão o quão grave é esta situação e, assim seguem com total submissão, à mercê do “ente” maléfico, que vos imputa a ignorância, torna-vos alienados a vosso poder em destruí-lo, assegurando, com efeito, sua inatingibilidade e reinando sem o risco do declínio vindouro.
Outra aliada do Estado é a mídia, que vos delega o sumo da ignorância cultural, que vos oferta a notícia desprezível, assim vos sois entretidos pelas noticias de celebridades instantâneas, pelos gols que vos mantém em silêncio ante o horror promovido pelo Estado, este espectro intrigante que vos mantém agrilhoados numa teia bem urdida.
Há aqueles que condenam o Estado por este não ser justo, não tratar a todos da mesma forma, mas de que adiantaria atender a todos se em seu âmago repousa a fera à espreita de novo ataque?
Assim, quando generoso, vos dá o que precisais, seduzindo-vos com voz argentina por uma lado, enquanto vos açouta acintosamente por outro, mas vos sois inertes, e não por vossa culpa, pois, fordes adestrados como cães de caça à espera do comando e à pronta obediência, inquestionável.
Vós sois submetidos à justiça e rigor, justiça que é mais do que cega, pois um cego é capaz de melhor discernimento, justiça que não é sinônimo de fazer a cousa certa, mas sim, de obedecer ao Estado, pois seus operadores também já foram corrompidos e são elos desse grilhão que amordaça a todos vos. Até, quem sabe, o dia em que vos percebereis que vossas mentes não estão amordaçadas e que podeis, unidos, destruir o monstro que vos enreda e condena ao eterno pesar.
Eis o anarquismo, do grego anarkhos, ou seja, sem governantes, logo, sem Estado. O anarquismo não seria, logicamente, para todo sempre, mas é necessário para queda do inatingível Estado, em seguida, se dividiriam subgrupos, micro sociedades, que seriam formadas pelos que pensam de modo similar. De modo direto estes próprios grupos se governariam, todos governariam e cada um dos integrantes seria seu próprio Estado. Desta forma, esses diversos subgrupos, quiçá, encontrariam maneiras pacificas de dirimir seus próprios conflitos, num grande cooperativismo que no fundo é possível, desde que se respeite os variados pontos de vista, basta imaginar como era antes surgimento do Estado.
Mas ainda que numa sociedade perfeita, essa proposta quimérica que creio, não teria valor, pois, o Homem continuaria em busca da sua verdade absoluta, da imposição de sua vontade, pois a mácula irremovível é o próprio Homem. Talvez, o grande problema seja a frase de Otto Lara Resende: “O mineiro só é solidário no câncer”. Para maior abrangência, traduziria a entrelinha a dizer que o ser humano só é solidário no câncer. Tão logo há um ser humano, há também a degradação e sua própria degradação.
Eduardo Cantos Davö

Um comentário:

  1. ronaldo martins disse...
    eu já vi tudo o que precisava ver,lula abraçando collor e sarney,renan calheiros,o próprio escandalo do sarney no senado, o escandalo do artur virgilio,o deputado que dizia estar se lixando para a opinião pública,o lula vaiado no pan-americano do rio,AGORA CHEGA!
    Quinta-feira, Agosto 19, 2010 10:55:00 PM

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Músico, Escritor, Anarquista e estudante de Direito (embora seja paradoxal). Um idealista, em busca do compreendimento das cousas mais banais que nos rodeiam.